NA OFICINA
DE
CORTE E
COSTURA
A mãe deles era exímia costureira e
ensinar sua arte era parte do oficio dela.
As aprendizes eram em sua maioria mocinhas chegadas de longe
a se reunirem para as aulas na sala ampla de pé-direito alto, peça principal da
casa assobradada, onde viviam pai, mãe e três filhos. Ali morava a família Martins
convivendo com moldes, tesouras, moçoilas, botões e figurinos. Vindas de
povoados vizinhos, as aprendizes tinham
o objetivo de aprender a arte da costura a se prepararem para a lida no lar em
primeiro lugar, pois que a vida era assim. Além da mãe, as tias dos três
meninos também eram sabidas artistas criativas e talentosas na lida com a linha
e as tesouras, apreciadas por suas habilidades e conhecidas como as graciosas
filhas do sisudo ferreiro Belarmino, que falava alto também por conta do ofício
e era conhecido como Bela. Esse o nome do pai e do avô. E tambem foi esse o
mesmo que sapecaram no menor dos três netos paridos da filha - do meio -, naquela
noite, para festejar o patriarca, que mal sabia ler e sequer entendia o que
significava a palavra com a qual seus conhecidos o identificavam.
Belinho, assim tratavam ao mais novo dos descendentes do Bela
e que era também o caçula dos netos, pois tinham outros primos de pouco
conviver.
Certo dia ele ouvia uma das mocinhas a buscar orientação fora
do currículo com a mestra sua mãe, conversando junto ao vão da escada larga de
madeira entre duas portas. Queixava-se a menina de se sentir sempre triste e
cansada mesmo sendo adolescente e se saber saudável, com tanto por experimentar
e aprender, reconhecia e revelava desditosa suas razões para tantas e tais tristezas,
enquanto se mantinha assimilando as dicas de sabedoria que a mestra lhe
oferecia.
Belinho se habituara guardar em deduções
o que apreendia das conversas ouvidas ao acaso.
Assim sendo, continuava a escutar o que dizia a aprendiz
quando a mãe dele, que afirmando estar surpreendida pelo fato da lamentação vir
de alguém tão jovem, perguntou à costureirinha,
a mestra gentil com voz clara e com seu jeito de poeta repentista e carinhosa.
“- Se
agora estás assim, que vai ser de ti, quando experimentar um dia, a verdadeira
saudade?”
Fez pausa a concluir audível, a frase que
deixou cicatriz eterna na feição e na memória dele:
- “Como hoje me afeta, a mim, que por esses dias
completarei trinta e sete anos de feliz idade? ”
Ao afirmá-lo e ignorando a origem das palavras, sua mãe tinha
no rosto o sorriso límpido de quem inventa e provoca espantos, enquanto ele se
surpreendia com o tanto de anos que ela já havia sobrevivido até ali. O susto se
ampliou, quando percebeu nas palavras um outro entendimento, tanto no
significado quanto na forma. Nunca lhe ocorrera tais invencionices, mesmo em alguém com a quantidade de tantos anos já
vividos e ainda assim, afirmar que encontrava razões para dimensionar o gosto
fino por manter a alma livre na eternidade.
- “Certo,
pois, só se pode ser feliz se si mantem a alma livre em qualquer das idades que
se tem.”
O velho
vô Bela, à vista embaçada e mãos trêmulas, talvez se alegrasse ao constatar o
tanto de tempo já sobrevivido em liberdade, presumiu assustado. Ele saberia,
por certo, onde fica, como é e o que poderia ser a eternidade. Qual haveria de
ser a dimensão dela? Seria suportável?”
O menino
começava naqueles dias, a lidar com suas primeiras respostas orfãs.
Conviveu com grande quantidade de dúvidas buscando resolve-las,
até que teve início o processo de desvendar seus mistérios no varejo, pois,
cada caso é um caso, o que viria a ser uma história paralela.
Vivia naqueles dias a maior das aventuras no ateliê de
costura da mãe e foi, naqueles tempos que seus irmãos desbravaram os
arquipélagos formados pelas bundas suaves e arredondadas das costureirinhas, a
farfalhar alegres suas saias ao longo das aulas na lida de aprendiz. O fato é
que seus irmãos haviam descoberto - os dois mais velhos e ao mesmo tempo -, as dezenas
de bundinhas prensadas a escapar tentadoras pela larga trama da palhinha dos
assentos a arrematar-lhe no avesso das cadeiras, o trançado e o teto das
galerias, onde se sentavam aplicadas, as aprendizes.
Dizia-se sobre os largos vãos deixados abertos no
trançado a se cruzar, que, “quanto mais espaçadas
fossem as tramas mais essas refrescariam os aquecidos fundilhos das moças em
dias de intenso calor, e seria esse um dos pecados capitais a restar de melhor,
para justificar os pudores tropicais.”
Sentadas sobre os finos fios do rendado as moças se deixavam,
a fim de aprender as artes da mãe mestra e costureira. Ficavam sentadas naquela
posição por horas, entretidas na lida com agulhas, linhas, carretéis, moldes e
botões. A fim de não amassarem os vestidos bem cuidados, as mocinhas levantavam
as barras das saias engomadas ao se acomodarem. Jogavam-nas de lado, protegendo
a intimidade das bundas recobertas por tênues malhas de algodão esgarçadas pelo
uso, brancas e coladas na pele, pois se tivessem cores ou mesmo se fossem bordadas,
seriam consideradas impróprias às moças de família. Não raro ocorria de as
aprendizes se agruparem para trabalhar peça de costura maior ou mais elaborada,
como lençois, colchas ou caudas de vestidos das noivas, dispondo as cadeiras de
jeito a formarem longas galerias em retas ou curvas, sob os assentos em modelo austríaco, das pernas finas do móveis
escuros. Seguros de não estarem sendo observados em suas traquinagens, os dois
meninos iam e vinham durante a pecação que perpetravam ao invadirem o proibido
inédito, ao longo das passagens recobertas por dezenas de bundinhas como tetas
em seus tetos. Era assim que seguia, a vida pecadora dos irmãos. Mãe que
gerenciava a casa e ministrava aulas, enquanto o pai - sisudo e severo - seguia
cedo para o armazém de secos&molhados,
no raiar do dia, saindo quando os filhos ainda dormiam. Lá ia ele para retornar
a casa no entardenoitar pouco antes dos três seguirem de volta aos seus quartos,
“em silêncio para suas camas, rezar e
dormir”. Raro conviviam, filhos e pai, que não era de falar, bastava-lhe a
maneira de olhar para resgatar expectativas, culpas e atiçar inseguranças tanto
no trato como até mesmo no jeito de andar batendo o taco do sapato firme no
assoalho.
DAS TEMERÁRIAS INCURSÕES RUMO AO PECADO.
As pernas finas das cadeiras se dispunham como colunas a
suportar a aboboda da instigante galeria e ao longo dela se podia apreciar os
estimulantes afrescos que, como graciosas saliências decoravam organizadas, os
tetos encantados da galeria dos sonhos de meninos normais, iguais a eles.
Os irmãos maiores partiam sempre aventureiros e
retornavam cobertos por militantas
fantasias.
Poucas vezes permitiam a Belinho participar das
considerações, findas as incursões, quando os ouvia falar das curvas e texturas campeãs
que mais os havia impressionado. A cupola das galerias por onde se esgueiravam
sub-reptícios era revestida pela trama de palha dividida em multifaces
irregulares, que se encaixavam suaves a transformar os preciosos glúteos em
pares de diamantes consistentes e macios a um só tempo. Um dia, porém, teriam
ficado tão extasiados frente a um par deles
ainda mais especiais e que os conquistou totalmente aos dois. Se ambos já
se consideravam exploradores experientes, imagine, então, como enxergavam a um
neófito, igual ao Belinho. Era normal, que no intenso verão, uma ou mais das
moças viesse para a aula sem usar nada debaixo da saia por conta do intenso calor
nas partes. Naqueles casos, o trançado da palhinha desenhava nádegas ainda mais
rosadas, livres das calcinhas que, por mais esgarçadas que fossem ainda assim as
embaçavam, explicava o irmão do meio, seu parâmetro, que falava pouco, sendo
também bom de trato e de briga. Foram os dois mais velhos, pois, que lhe ensinaram
as artes de ziguezaguear e de esquivar-se sem deixar pistas nos desvãos dos labirintos
em frente, por dentro e por fora, desde velhos tempos, até os contemporâneos.
Magros e rastejantes ralavam costa, nuca e cotovelos por
entre e sob os assentos de palhinha, apreciando os mais interessantes afrescos
a decorarem o interior dis seus ”tetos”. Em alguns casos a
pele da moça era lisinha a recordar
grandes pêssegos frescos com delicada penugem, noutras lembrava lixa grossa,
embora parecessem mornas, o que não era mau. Por isso, talvez, passassem a
impressão de serem macias, mornas ou friazinhas, a manter vivas as
dúvidas.
- “Não se podia tocar! Questão de princípio. Sequer pensar em alisar ou fungar. Muito
menos lamber! Só seria permitido o privilégio de degustar com o olhar silenciosamente
e sem sofreguidão. Continue enxergando, vendo, observe e espie bem, até
entender tudo a se bastar e ponto final! ” Repetiam os dois mais velhos,
fechando a questão.
Aquela era a lei e eles deixavam bem claro para
Belinho. -“Só pode ver! Punto & basta!”
Às vezes liberavam os sonhos e a discreção dele obrigava-o a
ouvir as considerações sem comentar. Caso o liberassem a usufruir daqueles
privilégios, isso só estaria autorizado a acontecer estando ele a-com-pa-nha-do. Jamais poderia partir
em uma incursão so-zi-nho. Só levado por
guias a explicar onde e quando as coisas ocorrem. Experiente, um dos irmãos
guia relembrava: -“A-com-pa-nha-do”, o
que atiçava nele interesses até então nunca
des- per-ta-dos.
- “Visitas solitárias ao ninho dos prazeres, aquilo jamais
lhe passara antes pelos miolos!”
Falavam das nádegas prensadas contra o
trançado das palhinhas, que ao explodirem pelo avesso formavam gomos
arredondadinhos e - apenas deduziam - por certo maciinhos, tenros e doces como
favos de mel, pois além da falta de imaginação, não havia, por certo, outros
espaços tão ricos, para neles, eles sonharem. Relembravam as qualificações do
traseiro desta ou daquela mocinha e detalhavam, fazendo-o corar. No grupo das
gordinhas identificaram com gosto, o jeitão de uma delas, entre todas. Diziam
que era assim-e-assado por ser a mais ampla e porque nela estavam as mais
rosadas e insinuantes almofadinhas,
transformadas em alongadas saliências, glúteos macios e íntegros, comparava o
mais experiente. Além de cheinha, aquela era a bundona mais fofa de todas e
tinha uma pinta marrom do lado, cujo desenho lembrava o mapa da nação, confidenciou
o irmão mais velho, acentuando o estilo
ultra-especial, dizia o mais experiente e refinado deles, inclusive porque ele
sabia onde e como utilizar expressões iguais a “estilo” e outras também raras de se escutar ou de se entender.
O tempo foi passando até que numa visita aos tesouros
intocáveis dos desejos e, não resistindo as tentações de um dia especialmente
quente com vários traseiros arejadamente descobertos, o irmão mais velho
sucumbiu ao canto de uma das tantas sereias
de sua Odisséia pessoal. O apelo pelado que lhe vinha do alto das galerias
acabou por levá-lo a alisar suave, com as pontas dos dedos trêmulos, algumas
almofadinhas daquele traseiro encantado, com o mapa da patria ao lado, o mesmo
já antes mencionado. Falou de sua experiência aos companheiros - ansiosos e
interessados -, aos quais passou a sensação de que havia sido fenomenal, e o
gozo mais do que satisfatório, dizia com a autoridade de quem havia, efetivamente,
tocado na coisa e sentido temperatura e textura. Se entre seus dedos e a pele
macia da bunda havia ainda as finas palhas trançadas do assento a separá-los e
ainda assim se enfeitiçara com o a satisfação de alisar as nádegas por inteiro
e liberadas? Fantasiava sozinho, falando alto e temeroso, sabendo que estava
efetivamente pecando, em pensamentos, palavras e ações. Depois recontava para
ele mesmo sua emoção e dos riscos inerentes até o gosto de sentir se
identificando com a emoção que lhe fazia transpirar o corpo de alto a baixo,
sentindo rara e incontida vontade. “O
desejo sem controle de pecar ainda mais lhe atacava bem no alto do vão das
pernas. Tenha sempre muito cuidado ao
mexer com essas coisas! Poderia estar
por ali a chamada tentação”. Era o que dizia o mais experiente deles, relembrando
os catecismos aos domingos depois da missa, “pois
a tentação é contraparente do vício e prima irmã do pecado”, recordando o
que dissera a catequista. Dos fatos,
ele extraia a perversão e depois, com os temperos a seu gosto, traduzia os
valores para todos seus ouvintes atentos, a anunciar sua liderança em matéria
de pecar, pois, naquela paróquia ao menos, ele era o desbravador.
Pareceu estranho, porém, não ter registrado qualquer reação
da aprendiz cujos alvéolos haviam
sido acariciados, sem reagir às inéditas e inconvenientes provocações do
primogênito. Ficaram todos eles em dúvida se a gordinha com o mapa no lado
havia percebido ou não o atrevimento e se, por conta disso, aproveitava-se dos
afagos ousados, e, que lhe teriam agradado, tanto a se sentir satisfeita,
conivente e silenciosa, sem reclamar! A hipótese era ousada e nojenta, mas
vinha de sua imaginação precocemente suja, e melhor, o fazia sentir-se com o
rei na barriga. Nos dias que se seguiram à intrepidez do irmão mais velho, a
moça da pinta no traseiro não veio a aula e todos se assustaram, inclusive
Belinho - fora de qualquer suspeita -, um simples estagiário não remunerado.
Enquanto reprimiam as ansiedades sobre os fatos, o primogênito,
atrevidamente criativo, tentava repassar o que lhe vinha na cachola ou o que
poderia estar, acontecendo por detrás das
saias distraídas.
- “O
que ocorre é...”- explicava em dissimulada modéstia e indisfarçada
arrogância -...“que talvez a aprendiz
tivesse percebido sua mão sábia e audaz, ainda que inexperiente, passeando pela
bunda dela e por susto, não ter apreciado o trato e teria ido buscar
explicações com o pai dela, que a proibira de voltar à aula e também se
comprometera de ir conversar com o pai dos meninos a fim de buscar uma
justificava para atitude tão atrevida”. Destrinchava,
justificava e se penitenciava pelo desastre.
Provavelmente, esclarecia por fim, breve seriam informados das
conversações, “o que significava surra à
caminho”, concluiu o do meio e o mais familiarizado com lembranças de tais
rituais familiares.
Por serem mais velhos, os dois viviam horas de amarga
expectativa, pois o pai deles não era de conversar e sabiam que cada lambada de
seu cinto deixava marca prolongada e ardida. Assustavam-se mais, aqueles que já
lhe haviam experimentado a zanga paterna em couro cru.
Belinho apenas acompanhava de longe a confusão,
solidário à apreensão de seus sábios irmãos.
A não ser o retorno da estudante com o mapa no traseiro para
as lições nas aulas seguintes e, sem que nada os houvesse acontecido de
inesperado, o suspense que por tão extenso e em tão curto espaço de tempo
espalhara a insônia e o temor entre eles, havia sido superado.
A tal
angustia que por dias assombrara a cena se desfizera em nada, acabando em susto
e paz.
A vida por fim, se acalmara para que algumas semanas mais
tarde, numa manhã quente e ensolarada de verão - estando livre de tutela e sozinho
no ateliê de costura da mãe -, enquanto farfalhavam alegres as aprendizes suas
saias, Belinho começou a se deixar tomar por ideias inesperadas, inspiradas em
subentendidas sugestões apreendidas ao acaso e por acaso em dias já passados.
Enquanto os irmãos mais experientes tivessem sido levados à
escola pela mãe para ter uma conversa com a diretora do Grupo Escolar, aproveitando
a autonomia por decidir ele resolveu aventurar-se nas galerias da beleza -
depois de ultrapassadas outras ignorâncias - e do pecado, contadas e decantadas
por seus guias ausentes. Tratava-se de incursão ousada e vetada como vôo solo
arriscado e já sabido. Sem instrutor ou rota definida partiria ele, tonto e
pronto para os trancos, desvãos e desvios da fantasia, como bem já o faziam
pelos ocos, sob os assentos das cadeiras “austríacas”
das aprendizes, sua dupla de irmãos maiores e experimentados, senhores dos seus
destinos.
Foi dessa forma decidida que
Belinho resolveu sair, rota incerta e rumo quase ignorado, sob as bundas
agrupadas no ateliê de corte e costura da mãe, que mesmo ausente dos planos
naquela manhã, seguia tendo trinta e sete anos de feliz idade e quase metade
desses em aprendizes reunidas no amplo ambiente de lições das artes da linha,
do molde, da agulha, da tesoura e da costura a juntar as peças.
Sorrateiro e arrastando as costas sobre o chão de taboas
limpas do salão bem tratado, ele seguia pela calorosa galeria recoberta de
nádegas projetadas em losangos com
baixos e altos relevos belos e bem definidos pelo sombreado
renascentista, protegida nas laterais por compridas e trabalhadas barras de
saias bordadas com técnica e atenção redobrada.
Indo de uma em uma, detinha-se nos tons róseas e nas texturas, volumes e curvas
das bundas. Lá ia seu olhar inexperiente e cada vez mais deslumbrado com o que
podia observar, começando a pecar com vagar e de manso, pela primeira vez. Eram
suaves as tramas que, tanto na imaginação como de fato, sonhava em roçar leve a
mão na superfície dos traseiros ao alcance do seu olhar. Apreciava o que via na
santa paz da ignorância consciente e, seguia em frente quando lhe aprouvesse ou
parava se lhe interessasse, lá ia magricela, sob coxas e glúteos, suspensos pelas
finas colunas negras de suporte das cadeiras de modelo austríaco. O túnel onde se contorcionava lento e seguindo em frente
a devorar as apreciaveis formas que
cobriam o teto extenso o bastante para não ter mais fim, nunca mais. Três ou
quatro cadeiras lado a lado e mais adiante, aquela que era a catedral das
bundas enfileiradas, onde calcinhas brancas ressaltavam, ainda e, porém, novo inédito
até então: Divididas as duas metades em formato alongado separadas em desenho
de diamantes, convexas e fartas, ligeiramente alongadas lado a lado. As
laterais dos róseos glúteos, na forma de conchas, flanqueavam em pares sutis,
um “bosque” escuro, felpudo e fofo, sombreado, variado e espichado até sumir
entre coxas roliças fundo afora - uns mais, outros menos intensos -, brandos e macios
sobre os quais nada houvera apreendido ou lhe havia sido dito até então.
A protuberância sombreada sobressaia a destacar-se
entre coxas e glúteos.
Podia-se perceber através da trama fina, a tessitura afofada
da superfície. Aquele inédito inesperado também poderia interessar mais tarde,
mas o objeto central de sua atenção pontual, eram os traseiros côncavos e
macios já decantados e contados por seus irmãos. Atrapalhava-se, com a ausência
do apoio técnico e da expertise fraterna ao ponto de confundir-se com a falta
de assessoria prática, embora se encantasse com tudo aquilo. Tinha certeza, que
por um instante apenas que fosse, todas aquelas bundas lhe pertenciam. Estava
consciente da realidade implacável, assim como da frágil e precária posse a
deter sobre o raro tesouro, entre sonhos e piratas, concorrência ousada, a
enervar-lhe.
Podia apreciar até o fim, ou escolher sem açodamento e
esse era o privilégio.
A ausência dos seus mestres era complicada por um, mas, por
outro lado, liberava espaço e facilitava o ir e vir. Sentiu que o imprevisível
- por conta do despreparo - tornava mais grave a aventura que estava em confrontar-se
com o inédito, para poder negociar em pé de igualdade.
Tudo ajeitado, podia então contemplar o conjunto de raridades
com calma e sossego. Só se deu conta de tão rara e generosa prerrogativa,
tantos e tantos anos passados.
Algumas bundas eram estreitas e parcimoniosas, nervosas,
róseas, pacíficas ou incógnitas, outras eram mplas, largas e generosas. Por ali
foi apreciando, na paz da manhãirembora, até que por fim se viu frente-a-frente
com a dupla de glúteos nus mais róseos e jamais vistos por seus olhos incipientes
ou mesmo ainda pelos experimentados olhares de seus sábios irmãos, pois o verão
queimava até na sombra a dispensar as calcinhas da maioria delas. Como diziam
seus mestres, aquela era a bunda mais extensa, intensa e gostosa de todas, o
que lhe embaralhava as idéias, pois, para ele, gostoso era galinha ao molho
pardo, goiabada com queijo e amor de mãe.
Centenas de tetas rosadas cobriam o céu da galeria ladeada
pelas delicadas barras das saias sustentadas pelas pernas finas das cadeiras,
deixando à mostra os premidos e desejáveis alvéolos a sobrevoar-lhe a cara
assustada. Um grupo de tetinhas tépidas e tenras dançava frente seus olhos nunca
tão abertos. Notou por fim a pinta marrom com o mapa da patria à direita da
bunda magnânima a recuperar referências nascidas alhures.
Aquietou-se por instantes, saboreando a descoberta em
aromático silêncio.
Com a visão desbravadora dos noviços, dimensionava o prazer
de ter ao seu alcance a mais decantada das bundas paroquianas. Ainda não
conhecia todas elas, mas a suave mácula marrom em formato cívico no lado
esquerdo, não deixava dúvida. Os olhos espantados começaram por devorar a
paisagem - que exibia na circunstância a possibilidade de esta ser sua única
chance - e foi com relutância que cedeu à curiosidade, para ao fim, depois de
resistir toda uma eternidade, avançar
a mão tímida, em busca do tato nos alveolos. A ousadia acumulada no instinto
reprimia a respiração inibindo-o e permitindo-lhe apreciar a textura de veludo
macio e brando daquele traseiro, despertando a pele inédita da aprendiz com interdita
e eriçada emoção. Aos poucos tudo aquilo mais lhe estimulava o interesse por
passar a mão de vagar, ainda que trêmula, na seqüência de alvéolos macios a
escaparem tramafora.
Assim o fez assustadiço, com a mão a se conter sôfrega
e às falanges inseguras.
Sentiu primeiro com o nó na dobra dos dedos o contato com a
pele da bunda ao seu alcance. Pelo instante de uma eternidade saboreou o
momento enquanto estendia os dedos e depois a palma da mão aberta sobre o
glúteo, ampliando a extensão do tato e multiplicando a satisfação do prazer.
Fechou os olhos num sorriso jubiloso e dobrou os braços avançando os ombros ao
apoiar-se nos cotovelos, e empurrando a boca qual girafa na busca da fruta
predileta e por isso quase inalcançável. Alongava a ponta do queixo esticando o
pescoço e o gógó sobre a garganta lentamente e cada vez mais para o alto.
Esticava-se até apoiar a fronte nas tépidas e brandas almofadinhas no teto,
sentindo sensação tão gostosa e acolhedora que o levava a esquecer por
instantes a existência de outros planetas à sua volta, pois o universo estava
todo ali. Experimentava aos poucos, com gosto e com vagar, o prazer do tato das
tetas na testa e depois nas bochechas. Avançou mais a fronte para encostar a
ponta do nariz na escura, misteriosa e fofa região situada entre as duas almofadas em padrão diamante, côncavas e
alongadas. Afundou o nariz menino para vencer a palhinha da cadeira e aspirou
forte o homem a afogar-se na satisfação de mergulhar as narinas indo mais fundo
para desvirginar o desconhecido. Sentiu a fragrância nunca aspirada, que só
anos mais tarde voltaria a experimentar saudoso.
Aventura, tato, visão e olfato, jamais esqueceria
aquela bunda, manhã ou aquele aroma.
Continuou desfrutando do conviver e do acariciar tépido e
macio, quando aos poucos, quase que intuitivamente e sem perceber o fenomeno,
seu pinto ainda infantil, de raro enrijecia-se e ao mesmo tempo ele começou a
esticar a língua para fora da boca o mais longe que lhe foi possível a doer-lhe
no pesoço e na nuca. Estendeu no ar - por certo tudo de que dispunha - cerca de
meia braçada de língua ou quase já se esticava no vazio enquanto prelibava o
júbilo e, ao fim se atreveu a dispará-la molenga e respingante, sobre boa parte
das tetas quentinhas e macias da fragorosa bunda.
Sentiu a textura, a forma e o calor no prolongado prazer de
lamber, pois, mais se alongou na pratica mais prazer tinha, e ainda assim a
degustação não lhe mudou o paladar. Sentia a grande satisfação promovida pelo fato
e o tato, mas não sabia como se aproveitar melhor do sabor do feito, constatava
alegriste, um pouco um e um pouco o
outro, consciente e desiludido. Era, sem dúvida, muito boa a sensação de degustar
a ação lambendo prazerosamente e em paz total as tenras tetas tentadoras.
Seria
aquilo perversão? Seria assim tão bom pecar? Onde tudo é prazer?
Calmamente para não ser abrupto, mas estimulando inconsciente
a luxúria ao desfrutar do contato na forma mais sutil e delicada possível sem
provocar qualquer incômodo, apenas satisfação, tanto na ida quanto na volta,
exercia seu despudor, pois era esse, o propósito final.
Pretendia passar despercebido como antes já ocorrera ao irmão
mais velho, a não ser pela intenção de promover o júbilo da parte complementar,
involuntariamente envolvida na operação, e pelo prazer de ter prazer, gostando
de gostar do que fazia e era. Desejava que o atrevimento terminasse inconsequênte,
tal qual sucedera ao primogênito, que de feito igual só colhera saberes e prazeres.
Mas
aconteceu foi tudo bem ao inverso do que sinceramente ele esperava.
Desde o ato passaram-se anos e sentia
sempre grande satisfação por delinqüir sem jamais se esquecer do prazer
experimentado nos pecados daquela distante estréia. Quanto aos irmãos mais
velhos, nunca também se esqueceram daquela manhã, por diferentes motivos. Mais
pelos desdobramentos sinistros do fato narrado e que concluo na seqüência.
Depois que os acontecimentos se tornaram conhecidos, coube
aos dois maiores serem levados ao tronco no pelourinho doméstico, onde foram
justiçados por conta de suas fraquezas e perversões, além de arrastar com o
menorzinho pelos caminhos da iniqüidade, segundo explicou mais tarde o
catequista.
Receberam os tratos devidos, dados a ambos, mas não Belinho -
como pivô de toda trama -, visto ter sido ele o caçula pervertido pelas más
influências. Autor do feito, sim, mas fê-lo em total inocência, concluíram os
doutos juizes. Durante o período de avaliação dos fatos chegou-se a assistir o
início dos preparativos do enxoval do caçula para ser internado como castigo,
no sombroso Colégio Caraça, localizado na solidão e ao vento sibilante no alto
das frias montanhas da Serra do Curral, memorável refúgio para meninos rebeldes
atacados por problemas de adaptação
social naqueles dias. Por ser inexperiente nas artes de pecar - ainda que
precoce e dissimulado -, Belinho acabou livrando-se da pena maior, por conta de
um desleixe da vida, tendo, porém, de ouvir um carão que lhe doeu nos ossos
então e até aqueles dias, tantos e tantos anos passados. E continua a doer hoje
como antes.
Pois foi a partir daquele incidente que Belarmino Azevedo
Neto, o Belinho, irmão menor de Bartolomeu e Benedito Azevedo da Silva - que
pela imprudência, impudência e ousadia foram sacrificados no pelourinho
doméstico -, ficou sabendo que tinha o pleno direito de cumular fraquezas e
assim começou a desfrutar do prazer da pecação, mal conhecendo, porém, sobre os
deveres que se impunham pela imperícia de sucumbir a tantas, tontas e tais
tentações.
Tempos
depois ele descobriu que já não era mais quem havia sido, nem ele, nem seus
irmãos ou mesmo seus pecados. Mas em suas lembranças a mãe dele continuava
tendo a mesma idade e guardava no semblante a idêntica alegria do rosto sereno.
Sorriso de quem não se esquece do que foi, sem medo do que virá depois, por ser
assim que a mãe dele é, foi e para sempre há de ser, como a vê, no alto astral
dos seus eternos 37 anos de feliz idade.
FIM - (23/07/014-ZAP
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